Situado em pleno Bairro Alto, o restaurante Rosa da Rua é um espaço peculiar, tendo adoptado um conceito que concilia a estrutura base do prédio centenário com um design que prima pelo acolhedor e prático. O restaurante Rosa da Ra existe há três anos. Depois de dirigir uma escola na linha de Cascais durante 26 anos, Teresa Almeida deu "uma volta" de 180 graus à sua vida e criou este espaço. Partindo do gosto de "dar de comer aos amigos". Teresa Almeida recuperou um espaço que pertencera ao trisavô, um espaço que "toda a vida ouvi falar", sublinha. O Rosa da Rua evoluiu e "já não é propriamente apenas dar de comer aos amigos", transformou-se "em algo sério", confessa Teresa Almeida, cujo prazer pelo espaço "nunca esmoreceu", apesar de alguns cravos. Actualmente completamente integrada no Bairro Alto, "onde é giro viver, apesar das paredes sujas de graffitis e pejada de cartazes", a rosa deste restaurante confessa-se apaixonada "pelas pessoas, gritos e histórias" do bairro histórico lisboeta. A Francisco Sequeira, arquitecto autor deste projecto, Teresa Almeida diz que "não disse nada", somente "coloquei nas mãos dele um projecto limitado pelos custos", adianta à Traço.
Entre factores que Teresa Almeida destaca do espaço, "a qualidade acústica é incrível", resultante da "arquitectura em si" e uma "peça de design lindíssima, o balde de gelo", da autoria do designer dinamarquês Dens Quistgard. Passemos a palavra a Francisco Sequeira.
ESTRUTURA À VISTA
Boa tarde Francisco Sequeira! "Boa tarde!". "O objectivo foi ir reconstruindo [o espaço] há medida que se iam picando as paredes e percebendo o que ia aparecendo", começa por explicitar Francisco Sequeira. Enfrentando uma série de "surpresas", o autor do projecto descobre "uma estrutura de gaiola", sendo que, na ressaca de picar as paredes, "aparecia sempre uma pedra cuja composição varia bastante", O resultado foi o que acabou por o espaço "ganhar uma linguagem própria", daí que Francisco Sequeira tenha achado por bem "manter a estrutura com a pedra à vista", uma solução que cogitou, "não seria apoiada pelos donos por ser tão radical". De facto, isso não aconteceu, Teresa Almeida cumpriu a carta branca dada anteriormente a Francisco Sequeira (surpreendido) avançou. Terminada a tarefa de picar as paredes, "passou-se à escolha do pavimento", tendo a opção passado por um "pavimento de madeira", algo que, fez questão de frisar, "nos restaurantes também não é muito usual".
BOAS VIBRAÇÕES
O objectivo foi notório; constituir o restaurante como um "espaço acolhedor, não ser mais um qualquer restaurante e daí criar alguma surpresa e, acima de tudo, um grande conforto no seu interior". Tal como Teresa Almeida referiu à Traço, Francisco Sequeira destaca a "natureza sonora" como peça chave para dotar o espaço de conforto. Por conseguinte, trabalhando a parte acústica, o autor revela que "o tratamento adoptado para as paredes foi fundamental porque absorve o som e evita ecos". Mas não só, esta qualidade sonora resulta ainda dos tectos falsos, numa cor rosa forte como homenagem à rua em que se insere mas também "para não ter uma linguagem redundante, em contraste com a linguagem monótona das paredes", e do pavimento, claro está. Ao nível da cozinha, é uma zona em que domina o preto, ideia resultante de "criar ali um espaço escuro aberto mas que não interessa que se olhe para lá". Finalmente, um apontamento sobre a casa-de-banho, "que assumimos que teria de atravessar o pátio", onde se destacam os tons vivos do rosa, afinal estamos no Rosa da Rua.
Obrigado.
in revista Traço (suplemento do Jornal Construir n.º 128)
[arquitectura + design # 06] por Pedro Luís Vieira
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