terça-feira, 23 de novembro de 2010
sábado, 18 de outubro de 2008
Indicação urgente... Cozinha de mercado a bons preços num restaurante bonito e alegre...
Hoje vou escrever sobre um restaurante que recentemente teve uma mudança na cozinha, sem dar tempo para que ela se consolide, o que geralmente só acontece ao fim de uns meses. A urgência deve-se ao facto de António Sequeira, que há cerca de um mês começou a trabalhar no Rosa da Rua, não ser um "profissional" da cozinha e de ele próprio não ter a certeza se vai aguentar o desgastante ritmo diário de um restaurante. Mas como tem um grande conhecimento dos produtos e honestidade a tratá-los, como o restaurante é bonito e agradável, os preços são bons, acho que devo dar logo a indicação aos leitores que queiram aproveitá-la.
Quando digo que António Sequeira não é um profissional, não estou a ser exacto. Daí as aspas que pus no primeiro parágrafo. Afinal, ele tirou o curso de hotelaria em Bruxelas, onde então vivia, chegou a trabalhar em alguns restaurantes, mas depois a vida levou-o por outros caminos, incluindo o da agricultura biológica em Castelo Branco, de onde é natural. Amigo da dona do Rosa da Rua, Teresa Ferreira de Almeida, decidiu voltar à cozinha, dando novo alento a este restaurante do Bairro Alto que já conta com três anos, uma felicíssima recuperação de um espaço da autoria do vizinho e arquitecto Francisco Sequeira (que não é parente de António, só amigo). Conheci António Sequeira em casa de amigos comuns e, como já tinha visto que ele cozinhava a "sério", não perdi tempo a ir lá jantar, mal soube da sua nova ocupação. Já tinha ido há uns tempos e lembrava-me de pratos de caril, moquecas e outros de cariz exótico, que conviviam na lista com outros mais europeus.
Lembro-me de que gostei, achei o ambiente simpático, mas, não sei bem porquê, não fiquei com grande vontade de voltar. Agora, reservei mesa noutro nome, mas mal entrei deparei com António Sequeira, e foi ele quem nos indicou os pratos a escolher. Após um couvert com óptima broa de milho e humus (pasta de grão e tahini), a minha mulher e eu partilhámos um original e saboroso carpaccio de cavala, perfeitamente limpa, um pouquinho frio de mais, muito bem temperado com azeite negro. De seguida, um onglet com cebolas e batatas soufflé (que, embora secas de óleo, não estavam lá muito "empoladas"...), peça de carne de vaca muito pouco usada entre nós, que só tinha visto na lista da Travessa, restaurante também de influência belga. Vieram em quatro generosas fatias para cada um, suculentas, cheias de sabor, mas que ainda conseguiam ser melhores graças ao magnífico e desengordurado molho que as acompanhava. António Sequeira explicou-me como preparava, durante 12 horas, o fundo de carne que dá base ao molho e percebi como a sua formação em cozinha clássica faz toda a diferença. À sobremesa, fatias-da-china e leite-creme, para mim sem grande história, embora o segundo beneficiasse de ter sido queimado ao momento. Bebendo o tinto Quinta de la Rosa (26 euros), a conta foi pouco mais de 35 euros por pessoa, o que é bom preço.
A história não acaba aqui, porque um dia, ao ouvir falar de uma refeição que tinha custado umas centenas de euros, António Sequeira disse-me que fazer um brilharete a 1000 euros por pessoa não é difícil. Basta comprar caviar, foie gras, trufas, etc., e não estragar. Ele queria era ver alguém brilhar com uma refeição que custasse um euro...
Foi com essa história na cabeça que voltei no dia seguinte ao Rosa da Rua para experimentar o buffet de almoço que custa não um mas dez euros. Noutros dias há cozido e feijoada, mas desta vez provei pataniscas, ovas de pescada com legumes, ervilhas com ovos escalfados, esparguete com carne moída, tudo de razoável para cima. Bebendo duas imperiais e um café, ficou em exactos 13,6 euros, numa excelente relação qualidade/preço.
Espero que António Sequeira assente nesta casa, fazendo a sua "cozinha de mercado" a preços sensatos, usando as suas bases técnicas para nos proporcionar refeições alegres e descontraídas. Vou visitá-lo muitas vezes.
in revista NS' 145 (suplemento do Diário de Notícias)
18/10/2008 por Duarte Calvão
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